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UMA LUTA CONTÍNUA

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​Contudo, na praia do Icaraí, ainda se faz presente a movimentação de surfista, tal como Michel Rone Lima (37), advogado que pratica o esporte na região há mais de 20 anos. Questionado sobre as alterações ocorridas na praia do icaraí ao longo dos anos, ele comenta sobre a “evolução” do mar em suas adjacências. “Não podemos falar nem de evolução, né? Isso é um retrocesso. Nós surfistas, percebemos que o mar avançou não só aqui, no Icaraí, mas também na praia da Taíba, e até mesmo na praia de Iracema. Aqui era polo de surf, hoje, eu estou vindo só para nadar, tomar um banho de mar. Não tem mais as mesmas ondas que tinham antigamente, aqui era mais tranquilo, a água era mais limpa, questão de limpidez da água mesmo. Hoje, a gente percebe que vem uma água turva, acho que isso é influência das construções que devem estar trazendo barro, ou algum resíduo de obra. Isso não é só da natureza”, ressaltou.

Além disso, o surfista comenta sobre o descaso com o mar, principalmente devido aos lixos que encontra enquanto pratica o esporte. “Diversas vezes encontramos lixo industrial, não é só lixo residencial como garrafa pet ou sacos plásticos. E aqui, se você observar, as pedras que encontramos na faixa litorânea, muitas das vezes são pedras de construção. Diversas vezes eu já pisei em tijolos ou concretos, outras vezes encontrei até peças de ferro também. O que eu acredito é que tenha uma relação direta com o aterro e a construção do Pecém”, disse.

 

Sobre a construção do novo Aterro da Praia de Iracema, Michel afirma que, na sua opinião, isso pode influencia em diversas coisas, em especial, as correntes marinhas. “Talvez lá não irá ter um impacto tão forte, mas sim aqui, nas regiões limítrofes. Claro, eu sou surfista, sou a favor da natureza, da conservação do ambiente, mas eu também acredito que nós, como seres humanos, somos responsáveis pela conservação do ambiente, temos o direito de ter uma boa relação com a com a natureza. Eu, sinceramente, não sei dizer se os espigões diminuem a potência das correntezas, mas sei que, onde eles são construídos viram verdadeiras lagoas. Muito bonito, muito apropriado para o banho, mas eu sei que isso para o surf não é bom. No que você constrói um espigão, ele vai está mudando toda a correnteza, todo o sentido da formação das ondas”, afirmou. 

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Mas eu aprendi a conviver com o mar",

eu tenho conseguido conviver com ele. Porque com a natureza você tem que aprender a conviver, saber como ela age, e claro, você não pode agredir. Se agredir você vai perder pra ela

José Mauro Mota é administrador a mais de 25 anos do Condomínio Residencial Morada do Sol Nascente, construído por volta da década de 80. Para ele, conter o avanço do mar é uma luta diária que vem percorrendo a mais de 35 anos. Mauro afirma que já utilizou de diversas técnicas para conter a fúria do oceano, contudo, até hoje, nenhuma realizada de forma efetiva. 

“Eu e alguns outros funcionários do hotel, plantamos umas 20 carnaúba em dois e dois metros, e o mar veio comendo devagarinho até zerar. Porque aqui quando você chegava você não via o mar tão de perto, era uns 50/ 60 metros da cerca, alí se encontrava uma duna muito alta que impossibilitava de ver o mar. Mas minha luta é aqui nesta casa, este é meu quintal. Às 06h da manhã eu já estou rodando pelo condomínio, a primeira coisa que faço é ir a praia, agradecer a Deus por ta vivo e vendo o mar”, afirmou.  

 

A administração do Condomínio, para evitar o avanço do mar e consequentemente futuros danos com a estruturas do residencial, optou por construir muros de proteção, com diversos blocos de pedra. “Nós estamos nos piores meses, de setembro até janeiro, temos as marés mais difíceis, mas quando ela termina eu faço o socorro e ponho mais pedra. Esse enrocamento nos protege, não é a solução, a solução seria os espigões, mas não tem outra maneira”, comentou. O administrador ainda afirma sobre como aprendeu a lidar com o mar durante todos esses anos. “É o que eu digo, se eu perder para o mar 1 cm, recuar minha cerca 1 cm, eu fico triste. Mas eu aprendi a conviver com o mar, eu tenho conseguido conviver com ele. Porque com a natureza você tem que aprender a conviver, saber como ela age, e claro, você não pode agredir. Se agredir você vai perder pra ela”, destacou.

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Sobre os diversos impactos da praia de Iracema, com a construção de espigões e aterramentos feitos na orla, Mauro elabora as suas próprias conclusões lógicas. “Eu discuti isso com geólogo, pessoal do Ibama lá de Fortaleza, nos diversos dias em que fui para a Assembléia. Eles falam muito tecnicamente, e eu falo simples, por que vejo a realidade disso aqui. Se você pega o mar, e expulsar toda água para um outro canto,onde ela derrama? Pra direita e pra esquerda. Na hora que você empurrar a água pra frente, ela vai para um dos dois lados, então ela vazou muito para cá. Esses últimos espigões que fizeram na Barra e mais outros aterramento, isso é um absurdo. Somos nós que teremos que repor toda essa areia que eles tiraram. O mar vai querer ela de volta, então ele vai puxar de algum canto daqui, é a gente que sofre com tudo isso”, disse. 

 

Futuros projetos 

 

Seu Mauro comentou sobre os projetos de 6 espigões prometidos pela prefeitura de Caucaia, orçados em aproximadamente 54 à 104 milhões, contudo, sabe-se que, até então, o planejamento não sai do papel desde de 2017. “Nós temos dois projetos de seis espigões e outro de três espigões. Nos ajudaria muito. Mas a parte mais adiante sofreria”, salientou. 

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